A tragédia ocorrida na manhã da última sexta-feira (08), no CT Ninho do Urubu, do Flamengo, chocou o mundo. Lidar com a morte, a perda, sempre foi uma das maiores questões para o ser-humano. Mas quando as vítimas são crianças que sonhavam acordadas e dormindo, o sentimento de dor ultrapassa qualquer barreira. É a inversão do natural, longe de ser algo aceitável embora infelizmente seja real.
Foram dez mortos e três feridos – um deles, Jhonata Ventura, segue em estado grave. Crianças que abdicaram da infância no sonho de um futuro melhor com a bola nos pés. Diante de uma tragédia sem precedentes na história do futebol carioca, é preciso acima de tudo dar o máximo de assistência para os familiares das vítimas.
O ato contínuo está na investigação. Mas além de todo o lamento e consternação, fica o alerta em relação às condições de trabalho de jovens esportistas.
“Esses meninos, essas crianças, muitas vezes estão sendo tratados como um negócio para o futuro. Não existe, de modo geral, a preocupação com esses garotos. Nem falo especificamente do Flamengo, mas do Brasil inteiro”, diz o presidente do Sindicato dos Atletas de Futebol do Estado do Rio de Janeiro (SAFERJ), Alfredo Sampaio.
“Virou comércio, e a ganancia faz com que muitas vezes as pessoas fechem os olhos para muitas coisas. E aí tem que acontecer uma tragédia dessas para que a gente volte a discutir algo assim”, destaca Sampaio, que também é treinador do Bangu e tem longa experiência por clubes de menor expressão do futebol carioca, durante entrevista exclusiva para a Goal Brasil.
“Por acaso foi no Flamengo, que sempre procura fazer um trabalho sério. Foi uma fatalidade mesmo, mas pode ter certeza que se for andar pelo Brasil nestes dormitórios que ficam esses garotos nós vamos encontrar absurdos: falta de qualidade de vida, higiene. Isso tem que ser revisto. Nossas crianças estão virando mercadoria, futuro ativo em negócios”, destaca.
Os meninos dos times sub-15 e sub-17 estavam apenas a alguns dias de saírem dos contêineres para se mudarem para instalações melhores do Ninho do Urubu. É mais um ponto que aumenta a dor pela tragédia e mostra a importância deste alerta que não se restringe apenas ao Flamengo, um dos clubes que mais vem investindo em sua estrutura e no futebol de base. Pois se uma instituição que recentemente gastou mais de R$ 20 milhões em suas instalações não evitou o acontecido, imagine a realidade de milhões de crianças que tentam a sorte no mundo do futebol Brasil afora?
Em comunicado emitido ainda na sexta-feira (08), a Prefeitura do Rio de Janeiro afirmou ter avisado o Flamengo mais de uma vez sobre irregularidades em seu CT e deu o alerta para as instalações de Vasco e Fluminense, que hoje funcionam sem alvará.
“É muito simples a maneira como é feito, mas precisa fazer de forma mais correta, com todos os conceitos de conforto e segurança. Algumas coisas são ignoradas porque ninguém acredita que vai acontecer. Isso tem que ser olhado de outra forma”, finalizou Alfredo Sampaio.
Que o horror sirva para acabar com a cultura do improviso em um país que não pode mais ficar acostumado a tragédias.
Fonte: Terra