A redução de 3,88% no preço da gasolina vendida pelas refinarias da Petrobras anunciada na quinta-feira, o segundo corte em menos de duas semanas, leva economistas a refazerem novamente as contas para projeções de inflação neste ano. Os cálculos reforçam a expectativa de IPCA negativo em agosto, configurando deflação em meio à campanha eleitoral. A inflação é um dos principais obstáculos identificados pela equipe que trabalha na reeleição do presidente Jair Bolsonaro para ele avançar nas pesquisas.
Nos últimos meses, Bolsonaro vem pressionando a empresa a evitar reajustes, que minam sua popularidade. Trocou o comando da estatal, enquanto o Congresso aprovou projetos para desonerar combustíveis e contornar regras fiscais e eleitorais para conceder novos benefícios, como um auxílio amenizar o custo dos combustíveis para caminhoneiros e taxistas.
Na quarta-feira, a Petrobras definiu que o seu Conselho de Administração, onde o governo tem maioria, vai “supervisionar” decisões de reajustes tomadas pela diretoria da empresa.
Analistas explicam que o alívio no preço do combustível nas refinarias, que deve chegar às bombas dos postos, não terá efeito sobre o IPCA de julho, uma vez que a coleta da pesquisa realizada pelo IBGE se encerra nesta quinta-feira, dia 28.
Mas a redução deve impactar em cheio o IPCA de agosto, quando também serão sentidos os efeitos residuais do reajuste anterior de 4,9%, concedido no dia 19 de julho.
O corte no preço do combustível reforça a expectativa de uma deflação em agosto. Isso porque alguns economistas já colocaram na conta uma possível retração nos preços dos serviços de telecomunicações, devido à redução do ICMS sobre o setor, aprovada pelo Congresso.
André Braz, economista e pesquisador do Ibre/FGV, explica que a gasolina compromete, em média, quase 7% do orçamento das famílias, e que mudanças no preço do combustível não são desprezíveis sobre o índice oficial de inflação, embora impactem menos em cadeia do que o diesel que é usado no frete e nos ônibus pelo transporte público.
Alívio de 4% para os motoristas
Braz prevê um alívio, entre julho e agosto, de 4% no preço da gasolina pago pelos motoristas nas bombas nos postos de combustíveis, considerando os dois últimos cortes na refinaria. Ele calcula uma redução de 0,25 ponto porcentual no IPCA de agosto.
— Esperávamos uma inflação de 0,3% em agosto, mas se a gasolina recuar tudo isso, a inflação de agosto fica próxima da estabilidade. E corre o risco de o IPCA ficar no campo negativo se outras variáveis importantes apresentarem queda, como é possível que aconteça com a parte de telecomunicações, que também teve redução do ICMS e ainda não teve efeito em junho e no IPCA-15 de julho — diz Braz, que prevê a inflação no ano caindo de 7,5% para em torno de 7,2%.
Economista prevê IPCA de -0,22% em agosto
Mirella Hirakawa, economista sênior da AZ Quest, diz que o anúncio de reajuste pela Petrobras foi de certa forma inesperado para o mercado, uma vez que os números da Abicom, associação que reúne importadores de combustíveis, indicavam defasagem positiva da gasolina em relação ao preço internacional do petróleo, referência da política de precificação da Petrobras.
A economista já previa deflação de 0,05% no IPCA de agosto por conta da redução de 4% no preço da gasolina nas refinarias a partir do dia 20 de julho e da possível queda nos preços no setor de telecomunicações . Agora, ela projeta deflação de 0,22%.
A queda no preço da gasolina teria um impacto de -0,14 ponto percentual sobre o índice, enquanto o etanol deve contribuir com -0,3 p.p. em agosto.
Fonte: O Globo