A Prefeitura de São Paulo passou a considerar automaticamente como casos confirmados os registros de pacientes que tiveram resultado positivo para coronavírus em exames laboratoriais, mas ainda estavam sendo contabilizados como casos suspeitos nos números oficiais.

A medida está presente em uma nota técnica sobre a reclassificação dos casos de Covid-19 divulgada pela gestão municipal e é defendida como “fundamental para possibilitar o acompanhamento da situação real da transmissão”.

Isso acontece porque, após o resultado do teste, os profissionais de saúde precisam retornar ao sistema de notificação oficial onde o caso foi reportado e “encerrar” o caso com a classificação de confirmado.

Devido à sobrecarga de trabalho, muitas vezes essa reclassificação manual não é feita imediatamente. Para agilizar o processo, a prefeitura adotou a reclassificação em massa, seguindo critérios de confirmação definidos pelo Ministério da Saúde.

Apesar de a prefeitura da capital utilizar esse método, o governo do estado de São Paulo e o próprio Ministério da Saúde ainda não realizam essa reclassificação automática. Por conta disso, o número de casos confirmados na capital chegou a superar o número informado para o estado inteiro pelo governo estadual, como revelou reportagem do g1.

Dados atualizados mostram que o estado notificou para a capital o equivalente a 7,5% do total de casos contabilizado pela prefeitura no mês de janeiro, e a disparidade segue em fevereiro (leia mais abaixo).

Em entrevista exclusiva ao g1 em janeiro, a Secretaria Estadual da Saúde admitiu que os dados do estado estão defasados. No entanto, em fevereiro, a pasta voltou a defender que cabe aos profissionais de saúde mudar o resultado dos casos no sistema, e não à administração estadual.

“Compete a eles fazer a inserção dos casos dentro dos sistemas de informações oficiais. Essa unidade notificadora precisa inserir o dado no sistema e encerrar esse dado oportunamente, se não ninguém terá conhecimento sobre esses casos. Não basta ele ter lá o resultado laboratorial positivo, precisa clicar no botão para encerrar essa ficha”, disse Tatiana Lang, diretora centro vigilância epidemiológica estadual, em entrevista à TV Globo nesta segunda-feira (14).

A prefeitura da capital, no entanto, defende que o chamado “encerramento” dos casos em aberto deve ser feito de forma automática. Em nota, a administração municipal apresentou um gráfico que mostra a diferença entre o número de casos registrados antes e depois da reclassificação automática.

“O grande volume de notificações, especialmente durante os períodos de aumento da transmissão da covid-19, traz dificuldades para os serviços manterem os dados atualizados. Muitas vezes já houve o registro do resultado dos testes de laboratório nos sistemas de informação, mas ainda não houve o preenchimento da classificação final do caso. […] A reclassificação tem se mostrado de fundamental importância para possibilitar o acompanhamento da situação real da transmissão da Covid-19 e permitir uma tomada de decisão bem informada”, diz a nota técnica.

O g1 questionou o Ministério da Saúde sobre o motivo de o processo de classificação final nos sistemas oficiais não ser automatizado.

Em nota, a pasta disse que “realiza o monitoramento epidemiológico dos casos e dos óbitos por covid-19 em todo o país, bem como monitora as hospitalizações e óbitos por Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG)” e que “o acompanhamento leva em consideração todas as informações relacionadas ao diagnóstico dos casos de covid-19, até sua classificação final”.

“Vale destacar que a pasta já realizava o monitoramento epidemiológico da pneumonia de etiologia desconhecida, mesmo antes da declaração de emergência pela covid-19. O Ministério ressalta que os dados são atualizados conforme o abastecimento feito pelos gestores locais de saúde e reforça que a notificação correta é fundamental para o acompanhamento efetivo”, disse o Ministério da Saúde.

Reclassificação de casos

Para o pesquisador do Instituto de Biologia (IB) da USP e membro do Observatório Covid-19 BR, Paulo Inácio Prado, a reclassificação adotada pela prefeitura da capital é importante para não sobrecarregar os profissionais de saúde.

No entanto, ele alerta que, para adotar essa estratégia a nível estadual e federal, é preciso haver um pacto entre as administrações.

“Isso, como tudo mais no SUS, depende de acordo entre todos os entes federados. Um acordo para abrir mão da especificidade que a classificação manual tem, em favor de um sistema com mais sensibilidade e agilidade”, disse Prado.

O especialista Julio Croda também afirmou que é preciso ter dados confiáveis para o acompanhamento da pandemia.

“Se a gente não tem informação, a gente não tem capacidade de monitorar, de planejar, e de atender a população adequadamente. Seja na abertura de novos serviços de atenção primária, de emergência, seja na abertura de novos, seja no planejamento futuro, a gente tem que detectar precocemente para informar adequadamente e planejar medidas efetivas de expansão de serviços”, disse à TV Globo o infectologista Julio Croda.

Estado tem menos casos do que capital

Após a chegada da ômicron, o município de São Paulo notificou no mês de dezembro 29.022 casos confirmados de Covid na capital paulista. Já a Secretaria Estadual de Saúde contabilizou apenas 2.217 casos na cidade de São Paulo no mesmo período, só 7,5% do reportado pela Secretaria Municipal de Saúde.

Embora as informações de casos e mortes de Covid de dezembro tenham sido prejudicados pelo apagão de dados do Ministério da Saúde, a prefeitura reportou mais contaminações que o estado.

Em janeiro, a diferença no número absoluto aumentou ainda mais. Enquanto o estado contabilizou 23.090 casos confirmados para a capital paulista, a secretaria municipal reportou 199.119 casos na cidade.

A comparação foi feita pelo g1 utilizando dados dos sistemas Sivep-Gripe e e-SUS Notifica, de acordo com a extração disponibilizada nos sites oficiais da Secretaria Municipal da Saúde da capital e da Secretaria Estadual da Saúde.

Fonte: G1

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