
Um processo de recuperação, reiterado pela terceira alta seguida do índice, mas um patamar ainda baixo, que não retomou o nível pré-pandemia e tem uma tendência de oscilação no segundo semestre. Essa é a leitura do economista Rodolpho Tobler, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre), sobre o Indicador Antecedente de Emprego (IAEmp), que subiu 1,0 ponto em junho, para 81,9 pontos, maior nível desde novembro do ano passado, quando registrou 83,0 pontos.
“A terceira alta consecutiva é um resultado positivo. Mas temos que considerar que nessas três altas houve avanço de 6,9 pontos e entre setembro do ano passado e março deste ano o índice recuou 15,1 pontos”, explica Tobler. “Ainda está recompondo o que tinha perdido”, acrescenta.
Em junho, cinco dos sete componentes do IAEmp contribuíram para o resultado positivo do indicador, com destaque para o indicador de Tendência dos Negócios da Indústria, que contribuiu com 0,6 ponto. Do lado negativo, a principal contribuição veio do indicador de Situação Atual dos Negócios de Serviços com retração de 0,4 ponto.
Tobler destaca que, no primeiro semestre a economia brasileira se mostrou “um pouco mais resiliente do que o esperado”. Nesse sentido, lembra que a atividade econômica foi ajudada por programas de desembolso do governo e pelo fim das grandes restrições decorrentes da pandemia. Mas ele pondera que, para o segundo semestre, a expectativa é de uma atividade econômica mais fraca.
Tobler baseia a estimativa de um segundo semestre mais fraco no cenário de inflação ainda alta e de juros em trajetória ascendente. Além disso, é no segundo semestre, lembra, que o ciclo de alta iniciado no ano passado deve começar a ter efeito mais forte sobre a atividade econômica.
“A segunda metade do ano é mais cautelosa. Com a pandemia saindo do radar, a atividade econômica é que vai ditar as expectativas para o mercado de trabalho. E a projeção é de uma economia reagindo mais devagar”, diz. “A inflação e os juros altos comprometem a geração de empregos”, ressalta o economista.
Tobler lembra que o período eleitoral também adiciona incertezas ao cenário e os empresários, como consequência, ficam mais cautelosos. O mercado de trabalho pode ter oscilação maior no segundo semestre”, frisa.
Ele acredita que o IAEmp pode ter outras altas nos próximos meses, mas ressalta que a tendência é de uma oscilação em um patamar baixo, com “um ou outro mês de recuperação, mas nada como três altas consecutivas como vimos agora”.
O piso do índice foi de 39,7 pontos, em abril de 2020, começo da pandemia. A máxima, de 109,6 pontos, havia sido pouco mais de dois anos antes, em fevereiro de 2018.
No fim de 2019, o índice registrava 89,9 pontos. Ou seja, os 81,9 pontos de junho ainda estão abaixo do nível observado logo antes da pandemia. “Ainda estamos devendo para chegar a esse patamar. A percepção [do mercado de trabalho] não está muito favorável. Ainda temos um ambiente de negócios turbulento”, diz Tobler.
Fonte: Valor Econômico