A maior taxa básica de juros do país em cinco anos e um endividamento recorde em 17 anos dificultam a vida dos devedores e ampliam os calotes. Também há o desemprego para complicar. Esse ambiente é perigoso para os endividados do país, afirmam economistas. O cenário para este ano é de piora do quadro, com desaceleração na oferta de crédito, continuidade do aumento dos juros, piora da inadimplência e aumento do universo de endividados, apontam economistas do mercado e universidades. Um quadro que só deve começar a melhorar a partir de 2023, dizem os especialistas ouvidos pelo UOL.
Como juros em alta afetam endividados
A taxa básica de juros, a Selic, referência da grande maioria dos empréstimos tomados por famílias e empresas no país, saiu de 2%, em março do ano passado, para 10,75%, este mês. É a mais elevada desde maio de 2017. Por causa desse avanço, a taxa média paga pelas pessoas nos empréstimos aumentou de 37,2% para 45,1% ao longo do ano passado. E deve seguir subindo.
Isso porque o Banco Central já avisou que vai aumentar a Selic novamente. O mercado projeta que a taxa básica suba até 11,75%, pelo menos. Então, a expectativa dos economistas é a de que os empréstimos ficarão ainda mais caros ao longo deste ano. Quem já tem dívidas vai continuar pagando as parcelas de acordo com os juros passados porque a grande maioria dos financiamentos no país são feitos com taxas prefixadas. Mas o aumento dos juros afeta a vida dos endividados porque dificulta a tomada de novos empréstimos ou a renegociação de dívidas dos que não estão conseguindo dar conta do compromisso.
Taxa média de juros pessoas físicas (dados do Banco Central)
Dez.2019: 46,2%
Jun.2020: 41,4%
Dez.2020: 37,2%
Jun.2021: 39,8%
Dez.2021: 45,1%
“Toda vez que Selic aumenta, outras taxas de juros do mercado aumentam também e isso encarece os empréstimos. Consequentemente, espera-se um volume menor de transações para o ano”. Renan Pieri, economista da Eesp/FGV Renan Pieri, doutor pela Escola de Economia de São Paulo, da Fundação Getúlio Vargas (Eesp/FGV), destaca que as famílias têm maior dificuldade para acessar crédito que as empresas, já que as companhias têm mais opções para levantar capital ou renegociar dívidas. “Mas o aumento da Selic acaba afetando todos”, diz Pieri.
O economista da Boa Vista (antiga SCPC – Serviço Central de Proteção ao Crédito), Flavio Calife, diz que 2022 tende a ser um ano ainda delicado para o nível de endividamento e, por isso, o consumidor deve se manter mais cauteloso e criterioso nos gastos. Junto com a Selic, o spread também pode subir ainda mais, elevando os juros finais ao consumidor. Flavio Calife, economista da Boa Vista.
Nível recorde de endividados
Segundo o Banco Central, o percentual de famílias endividadas subiu de 44% em 2020 para 51,2% em outubro do ano passado (dado público mais recente), o mais elevado em 17 anos, desde 2005, quando o levantamento começou a ser feito. Essas famílias já estão comprometendo, em média, 28% da renda apenas para pagamento de dívidas.
Fonte: UOL