Por João Guilherme Vargas Netto
Uma regra dos manuais de boas maneiras manda que se responda sempre uma carta recebida.
O presidente Bolsonaro não tendo respondido até hoje a carta que lhe foi enviada no primeiro dia de seu governo pelas seis centrais sindicais reconhecidas incorre em violação desta regra mundana de bom tom, a menos que os serviços burocráticos da presidência e a própria internação hospitalar do presidente tenham dificultado o gesto de cortesia.
As centrais sindicais “respeitosamente” apresentaram-se ao novo governante afirmando que “os trabalhadores, representados pelos seus sindicatos, federações, confederações e centrais sindicais não abdicarão do direito constitucional e democrático de defender e lutar por um programa que contemple a geração de trabalho decente, a valorização do salário mínimo e o fortalecimento das negociações coletivas. Esta condição nos obriga a exercer a representação plena dos trabalhadores junto ao novo Gabinete, aos vossos ministros, assim como na Câmara dos Deputados e no Senado Federal, nos fóruns, colegiados de órgãos públicos e demais espaços que possuem composição tripartite nos quais estejam em discussão assuntos que se referem ao mundo do trabalho e emprego”.
Na carta, até hoje sem resposta, os dirigentes esperam “que todas as medidas que atinjam os trabalhadores passem por um amplo processo de discussão e negociação” compatível “com a construção de um país mais justo, democrático, moderno e desenvolvido”.
O Fórum Sindical dos Trabalhadores em reunião recente determinou também a “elaboração de documento das confederações que será entregue ao presidente”.
Antes de obter uma resposta presidencial à carta das centrais alguns dirigentes de sindicatos, de uma central e de aposentados reuniram-se com representantes do Executivo para tratar de assuntos específicos de seus interesses.
No âmbito do poder legislativo algo semelhante aconteceu entre o presidente da Câmara e o ministro da Economia e dirigentes de uma central tratando do tema da pretendida deforma previdenciária.
Cabe analisar com seriedade em que medida todas estas iniciativas (mesmo corretamente motivadas e afirmando posições em defesa dos trabalhadores e dos sindicatos) desconhecem o até agora descaso presidencial, alimentam versões conflitantes e divisionistas e não contribuem para o êxito da plenária do dia 20 de fevereiro.
João Guilherme Vargas Netto é consultor sindical e membro do Diap (Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar)
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